A História de Dália
O Chocolate da Noite e a Magreza que Dói
Há treze anos, Dália tomou uma decisão radical pela saúde. Com 142 quilos, a pressão arterial nas alturas e o corpo inchado, a cirurgia bariátrica não foi uma aposta estética, mas uma necessidade vital. Ela não queria ser modelo; queria apenas viver.
A cirurgia cumpriu o seu papel mecânico. O peso despencou para os 72 quilos. Mas, ao olhar-se no espelho, Dália não viu a vitória que a sociedade aplaude. Viu doença. A magreza extrema trouxe-lhe uma estranheza profunda. Ela sentia-se frágil, "doente", irreconhecível. A mulher que, mesmo com o peso antigo, dançava e sorria, deu lugar a uma versão mais silenciosa e melancólica de si mesma.
A Reconciliação com o Espelho
O reganho de peso de Dália — hoje estabilizada nos 90 quilos — conta uma história de reconciliação. Para ela, esses 18 quilos recuperados não são um fracasso, mas um ajuste necessário. Foi nesse peso que ela se reencontrou, sentindo-se mais forte, mais "ela mesma".
No entanto, a jornada não foi linear. Recentemente, uma infecção óssea grave e misteriosa a confinou num hospital por 49 dias, cinco deles numa UTI. O corpo inchou até aos 112 quilos, reagindo ao soro e à inflamação, num susto que a lembrou da fragilidade da vida. Agora, em casa, recuperando-se lentamente, ela reflete sobre as escolhas que a trouxeram até aqui.
Os Pequenos Prazeres
Dália é de uma honestidade desconcertante sobre os seus "vícios". O cigarro, que abandonou no passado e que foi o gatilho inicial para o ganho de peso, foi substituído por outras compensações. A Coca-Cola no almoço e no jantar, e o chocolate sagrado antes de dormir, são os seus novos companheiros. Ela sabe que não são ideais. Ouve os conselhos para parar, mas reage com irritação.
"Eu não decidi parar."
Diz ela, reivindicando a autonomia sobre os seus pequenos prazeres num cotidiano exaustivo de vendedora que passa o dia em pé.
O trauma com uma psicóloga no pré-operatório, que a acusou injustamente de vaidade, criou uma barreira sólida contra a terapia. Dália carrega o luto recente da mãe e a exaustão do trabalho sem um espaço formal de escuta, preferindo lidar com a dor à sua maneira, no seu tempo.
Voltar a Sonhar
Hoje, o sonho de Dália não é emagrecer mais. Ela quer apenas "voltar a sonhar". Depois de uma vida inteira dedicada a formar os filhos e a trabalhar sem parar, ela quer viajar, passear, viver. O seu corpo de 90 quilos, longe da magreza que a assustava e longe da obesidade que a adoecia, é o veículo que ela escolheu para essa nova fase. Uma fase onde a saúde não é um número na balança, mas a capacidade de, finalmente, desfrutar da vida que construiu.