A História de Violeta
O Peso do Silêncio e as Nuvens de Algodão
Há doze anos, Violeta saiu de um consultório médico acreditando que tinha comprado um bilhete para o paraíso. Saía das consultas com o cirurgião com a certeza que teria um “o corpo mais bonito do mundo.
Violeta lembra-se da sensação física daquele dia: ela "pisava em nuvens". Naquelas nuvens, ela seria a mulher mais linda do mundo, o corpo seria leve, a vida seria uma festa eterna. Mas nuvens são feitas de vapor, e a vida de Violeta é feita de carne, osso e perdas.
A cirurgia cumpriu sua promessa aritmética: os números caíram. De 116 quilos, ela desceu para perto dos 80. Mas, enquanto a gordura ia embora, levava junto algo que não estava no contrato: a vitalidade. O corpo de Violeta, modificado cirurgicamente, tornou-se um território hostil para ela mesma. Comer carne virou um tormento; as vitaminas, essenciais para a nova anatomia, tornaram-se um luxo financeiro inalcançável.
A Gravidade da Vida
E então, a vida aconteceu com toda a sua gravidade. No momento em que Violeta precisava cuidar de si, o destino inverteu os papéis. Sua mãe adoeceu. O foco saiu do prato e foi para o leito. O autocuidado, que exige tempo e dinheiro, foi engolido pela urgência do cuidado com o outro. E quando a mãe partiu, e logo em seguida o irmão, o mundo de Violeta ficou insuportavelmente silencioso.
Onde antes havia uma "piolho de festa" — aquela mulher vibrante que amava a celebração e a rua —, restou o eco de uma casa vazia. A solidão tornou-se a nova companheira de quarto. E para lidar com o silêncio e com a dor que não cabia no peito, Violeta encontrou um anestésico antigo e perigoso: o álcool.
O reganho de peso de Violeta, hoje de volta aos 108 quilos, não é sobre gula. É sobre preenchimento. É a arquitetura de uma depressão que a convenceu de que é mais fácil ficar de pijama em casa do que enfrentar o esforço de se vestir para o mundo. O peso voltou quase todo, mas diferente de antes, agora ele vem acompanhado de uma profunda apatia.
"Eu desisti." — Violeta
Nessa frase curta mora uma honestidade brutal. Hoje, a relação de Violeta com a cirurgia é de um amargo arrependimento. Ela olha para trás e vê que trocou a obesidade por uma fraqueza crônica nas pernas e uma saúde frágil, sem ter recebido o manual de instruções para os dias ruins. As vitaminas compradas ficam no frasco, fechadas, testemunhas de um plano que existe na teoria, mas que falha na prática por falta de "vontade".
Um Dia de Cada Vez
A história de Violeta é um lembrete doloroso de que a cirurgia bariátrica opera o estômago, mas não opera a alma, não opera o luto e não blinda ninguém contra a solidão.
Ela vive hoje num ciclo de "um dia de cada vez", onde a vitória não é uma maratona corrida, mas o simples ato de respirar fundo, contar até dez, beber um copo d'água e ir trabalhar, mesmo quando o corpo e a mente imploram para ficar. Violeta é a prova de que, às vezes, sobreviver ao próprio reflexo e continuar caminhando, mesmo com as pernas fracas, é a maior das resistências.